Grupo de cinco famílias chegou à cidade na sexta-feira (9); Prefeitura teria oferecido abrigo, mas indígenas da etnia Warao não querem se separar.
Cinco famílias venezuelanas estão temporariamente instaladas no Terminal Rodoviário Miguel Mansur, em Juiz de Fora. O grupo, em torno de nove adultos e 15 crianças, desembarcou na cidade na última sexta-feira (9), vindo de Vitória, no Espírito Santo.
De acordo com Marco Nicolau, diretor-executivo da AMD Estações de Telecomunicações e Tráfego Aéreo, empresa que administra a rodoviária, eles foram acomodados na capela da rodoviária.
“Eles moraram cinco meses em Vitória, depois parte foi para Belo Horizonte e, agora, outra parte veio para Juiz de Fora, dizendo ser uma excelente cidade. Na sexta, a Prefeitura esteve na rodoviária, ofereceu levá-los para a área de acolhimento, mas eles pediram uma casa ou sítio para se acomodarem sem que se separem. Até que a situação se resolva, eles estão na rodoviária, se alimentando, fazendo a higiene pessoal, dormindo”.
Duas máquinas de lavar, uma televisão e outros itens teriam vindo com o grupo durante a viagem.

Imigrantes venezuelanos desembarcam e buscam abrigo na rodoviária de Juiz de Fora — Foto: AMD Estações de Telecomunicações e Tráfego Aéreo/Divulgação
Ainda conforme Nicolau, algumas pessoas têm levado doações de alimentos e roupas aos imigrantes.
A expectativa é que o impasse seja resolvido para a melhor acomodação dos venezuelanos, indígenas da etnia Warao. “Ele teriam passado pela Bahia, depois Espírito Santo e, agora, Juiz de Fora”, disse Marco Nicolau.
Em nota, a Prefeitura afirmou que a Secretaria de Assistência Social oferece alimentação e suporte para o grupo.
“O trabalho é para garantir os direitos do grupo. A vontade dos venezuelanos é estabelecer moradia no município e a equipe de abordagem da SAS está auxiliando no aluguel de um imóvel. A Prefeitura segue dialogando com o grupo e com entidades parceiras para atendimento ao grupo”, complementou o Executivo.
Outros casos
Em 2021, imigração parecida aconteceu na cidade, quando um grupo de 18 venezuelanos vieram para Juiz de Fora e se abrigaram no Bairro Bonfim. Após passarem por uma igreja evangélica, eles foram levados o ginásio da Secretaria de Esportes, no Bairro Santa Terezinha.
O motivo da mudança frequente, segundo eles, é a falta de trabalho.
Quem são os Warao?
Os Warao são indígenas naturais da Venezuela. Apesar de pertencerem a uma mesma comunidade, as diásporas — dispersão de um povo devido ao preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica —, os colocaram em diferentes localizações do país, mas ainda assim eles continuam a compartilhar a mesma língua: o Warao.
No país de origem, eles habitam, em grande maioria, o Delta do Rio Orinoco, localizado na República Bolivariana. Entretanto, eles também podem ser encontrados em outras regiões como, por exemplo, trechos fronteiriços à Guiana Francesa.
Ao longo dos anos, houve diferentes momentos da história que motivaram as diásporas dos Warao. Como, por exemplo, a colonização espanhola na Venezuela, no século XVIII, a chegada dos europeus ao continente, a criação de uma barragem no Rio Manamo — que provocou o deslocamento dos indígenas em direção aos centros urbanos — e a exploração de petróleo na cidade de Pedernales, onde a maioria da população era Warao.
Crise na Venezuela
As diásporas da comunidade foram intensificadas pela crise político-sócio-econômica da Venezuela. Dados divulgados pelo Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), em 2021, apontaram que cerca de 5 milhões de venezuelanos deixaram o país até 5 de setembro de 2020, sendo que 264.157 dessas pessoas buscaram refúgio no Brasil.
Dentre os principais motivos para o deslocamento está a hiperinflação, o aumento da violência, o desabastecimento de produtos básicos e a deterioração da área da saúde.
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