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Brasil pode levar mais de um século para ter equidade de gênero na política

Se manter o ritmo atual, Brasil pode levar até 144 anos para alcançar equidade de gênero na política, segundo estudo realizado pela Oxfam Brasil e Instituto Alziras

Por Juliana Lima, via Observatório do Terceiro Setor

O Brasil pode levar até 144 anos para alcançar a equidade de gênero na política se manter o ritmo atual de inclusão de mulheres nos espaços públicos e de poder. A conclusão é do relatório Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira, realizado pelas organizações Oxfam Brasil e o Instituto Alziras, e que analisou dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições municipais de 2016 e 2020.

Segundo o estudo, as mulheres formam apenas 14% das candidatas às prefeituras do país e 35% nas candidaturas às câmaras municipais. Além disso, 978 municípios (18% do total) não possuem vereadoras mulheres. A análise feita pelas organizações relaciona os baixos números a distorções e desigualdades nos processos de recrutamento e seleção de candidaturas pelos partidos políticos, lembrando ainda que existe uma política de cotas no país, definida por lei desde 1997, que determina que as legendas preencham ao menos 30% de suas listas com mulheres.

Já em 2020, a Justiça Eleitoral aprovou as cotas raciais nas candidaturas dos partidos e a destinação de pelo menos 30% de seus recursos públicos e tempo de propaganda eleitoral para as campanhas de mulheres. De acordo com o relatório, a determinação já trouxe resultados: em 2016, as mulheres eram 32,5% das candidatas a vereança com acesso a 21% da receita total, e em 2020, elas passaram a ser 35% dos postulantes ao cargo de vereador em posse de 32% da receita.

No entanto, as organizações defendem que ainda é preciso um conjunto de medidas estruturais e de longo prazo para que o país avance em equidade de gênero na política. Em termos raciais, pela primeira vez na história, as candidaturas negras foram a maioria (51,5%) para as câmaras municipais e 45,1% entre os eleitos. No entanto, apenas 6,3% são vereadoras mulheres negras, e 57% dos municípios do Brasil não têm vereadoras negras.

“Empregos mais precarizados e com remuneração inferior, o enclausuramento da vida doméstica que restringe a possibilidade de estabelecer redes de contatos, a sobrecarga do trabalho de cuidados familiares que retira tempo das mulheres são alguns dos obstáculos enfrentados por elas para mobilizar recursos financeiros para participar da disputa eleitoral. No caso das mulheres negras, esse abismo é ainda maior”, diz Michelle Ferreti, diretora do Instituto Alziras.

Em entrevista ao Observatório do Terceiro Setor, a pesquisadora Beatriz Rodrigues Sanchez, que estuda a representação política de mulheres no Brasil, também cita a divisão sexual do trabalho, que faz com que mulheres sejam as principais responsáveis pelas tarefas domésticas, como uma das principais barreiras para que elas ocupem mais espaços na política. No entanto, para a pesquisadora, o machismo presente nos partidos políticos também é fundamental para explicar a atual situação do país.

“As pesquisas eleitorais mostram que o eleitorado não vê problema em votar em mulher, então são as candidaturas femininas que não estão aparecendo para o eleitorado. Se elas recebem menos recursos, vão aparecer menos e ter menos chances de se viabilizar (…) É por isso que é preciso defender que as mulheres ocupem espaços com direito a tomada de decisões dentro dos partidos antes mesmo de irem para as eleições”, diz Sanchez.

Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

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