por Cláudio Lottenberg, na VEJA
O Brasil já tem mais de 143 milhões de pessoas completamente imunizadas (duas doses ou dose única), o equivalente a cerca de 67% da população, e avança na aplicação da terceira dose. Outros dados sobre a vacinação no país são igualmente expressivos: já foram aplicadas mais de 320 milhões de doses no total e, ainda em novembro, o país havia ultrapassado os Estados Unidos em proporção da população vacinada. Isso significa que a importância da vacinação foi reconhecida pelos brasileiros. O que também pode ser observado em um estudo do Banco Mundial e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud): o percentual de pessoas no país que mostram receio ante a ideia de tomar a vacina é o menor da América Latina – cerca de 3%, contra quase 8% na região. E então chegamos à hora de finalmente vacinar as crianças brasileiras de 5 a 11 anos de idade.
No mundo, ao menos 39 países – grupo que inclui, entre outros, EUA, Alemanha e China – já autorizaram ou iniciaram a vacinação desse público contra a Covid-19. Os norte-americanos, por exemplo, vacinam o público de 5 a 11 anos de idade desde 29 de outubro, com dose (0,2 ml) da Pfizer-BioNTech equivalente a cerca de um terço da aplicada em adultos – mesma dosagem autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 16 de dezembro.
Até agora, os resultados em relação à segurança da vacinação infantil são positivos. Dados do Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA mostraram que a incidência de efeitos adversos causados às crianças pela vacina é rara. Um levantamento considerando o período de 3 de novembro a 19 de dezembro mostrou que, em 8,7 milhões de doses ministradas ao público de 5 a 11 anos, houve pouco mais de 4,2 mil registros de complicações – e nestes casos, 97,6% não eram efeitos sérios.
Os três países citados como exemplos dos que já autorizaram a imunização de crianças estão entre os mais afetados pela Covid-19 nos últimos meses. A Alemanha, por exemplo, viveu recentemente uma “quarta onda”, que ainda não retrocedeu – desde 21 de dezembro, o país vem aumentando as restrições à circulação de pessoas e o governo alemão espera que a variante ômicron se torne dominante no país nas próximas semanas. Já nos EUA, o número de novos casos diários bateu recorde no dia 28 de dezembro: foram 258 mil (principalmente da ômicron, que, segundo o jornal “The New York Times”, responderia por 60% desse total). Na China, por sua vez, a cidade de Xian foi fechada pelo governo, após elevação nos casos: desde 27 de dezembro, nenhum veículo pode circular pelas ruas exceto para controle do vírus ou para fins de subsistência, e moradores só podem deixar a cidade a trabalho ou com permissão das autoridades.
Diante desse cenário mundial de incertezas em relação ao fim da pandemia, ainda que a vacinação esteja prevista para iniciar este mês, existe no Brasil uma polêmica em relação à necessidade de prescrição médica para se vacinar as crianças.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil é um dos mais completos do mundo e foi um fator importante para a queda da mortalidade infantil nas últimas décadas. Levar as crianças para serem vacinadas é essencial – talvez como nunca antes desde a criação do PNI, há quase 50 anos. Embora a Covid-19 seja menos letal na faixa etária em questão, ao menos 301 óbitos nesse grupo foram registrados no Brasil. Além disso, os sintomas também preocupam: uma em cada dez crianças com Covid-19 pode desenvolver sintomas gastrointestinais graves, com alto risco de hospitalização, segundo estudo recente feito nos EUA.
Com o retorno próximo das aulas presenciais, imunizar o público infantil não só ajudará a reduzir a circulação do vírus, como será fundamental para preservar a saúde das crianças brasileiras.
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Imagem: Até agora, os resultados em relação à segurança da vacinação infantil são positivos – iStock
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